Dom Rodolfo Luis Weber
Arcebispo de Passo Fundo-RS
Vivemos um tempo de crise em nosso
Brasil. Uma situação aparentemente tranquila e sob controle começou a
desmoronar. Conhecemos os diferentes fatos geradores da situação atual. Entre
as causas destaca-se a corrupção. O Papa Francisco quando fala da corrupção
escreve: Esta praga putrefata da sociedade é um pecado grave que brada aos
céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção
impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com sua prepotência e
avidez, destrói os fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos
gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. (O rosto da
misericórdia, nº 19).
Nesta situação complexa
multiplicam-se as interpretações dos acontecimentos. Os fatos e os problemas,
muitas vezes, são tratados com muita emoção. Outras vezes, é usada mais a
persuasão do que uma argumentação baseada em fatos. Todos reconhecem que a situação
é grave, por isso mesmo é tempo de ser criterioso para distinguir o verdadeiro
do falso, o fato do boato. É preciso argumentar a partir de fundamentos
constitucionais. A busca da verdade, a identificação e o julgamento dos
responsáveis são imprescindíveis.
A crise é um momento negativo e de
sofrimento para o país, pois gerou desconfortos, desconfianças, desemprego,
conflitos, tensões, desequilíbrios, injustiças e incertezas. Tem algo de
positivo neste contexto? O positivo está em trazer à superfície esquemas
criminosos escondidos que se tornaram públicos. A aparente normalidade era
ilusória e estava corroendo por dentro as instituições da nação. Indivíduos
envolvidos foram investigados, processados, julgados e condenados, e a
investigação continua.
Em segundo lugar, a crise obriga a
busca de soluções, do restabelecimento do equilíbrio, além de tornar-se uma
oportunidade de crescimento e de colocar em pauta as reformas necessárias.
Ninguém pode ficar indiferente, especialmente quem foi escolhido pela sociedade
para cuidar do bem comum. Vejo com preocupação que neste aspecto o debate e a
busca de soluções, muitas vezes, são paliativos. Comentam-se os fatos e
procura-se os culpados. A meu ver, é uma parte da solução da crise. Falta a
apresentação, a discussão e a aprovação das propostas de reforma do Estado
Brasileiro. Sabemos que estruturas inadequadas são propícias para desvirtuar
pessoas e propiciam privilégios para alguns. Leis e estruturas mais adequadas
favorecem a realização do bem comum e o controle social.
A crise que vivemos é uma
oportunidade para refletir e aprofundar quais são nossos direitos e nossos
deveres como cidadãos. Uma chance para conhecer melhor as instituições
públicas, como elas funcionam e qual a sua finalidade. Sem dúvida é uma oportunidade
para diminuir a corrupção. Concluo retornado ao Papa Francisco: para a
erradicar (a corrupção) da vida pessoal e social são necessárias prudência,
vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia.
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