Introdução
Muitas
reuniões de bispos se realizaram na Igreja antiga procurando sempre debater
questões da região, da vida em geral do povo de Deus e fazer encaminhamentos,
dar soluções para as problemáticas surgidas. Como bispos, estamos no momento
atual em Asembleia geral da CNBB vivendo a graça de Deus, pela comunhão
eclesial e pela fraternidade. Essa acontece uma vez ao ano reunindo bispos das
diversas partes da Igreja no Brasil, juntamente com assessores, assessoras,
leigos e leigas, povo de Deus. São dias maravilhosos de conhecimento, de
cordialidade entre os sucessores dos apóstolos, em unidade também com o Papa,
de vida no Espírito Santo e com o Pastor dos Pastores, Jesus Cristo. Analisemos
um pouco essa prática na Igreja antiga.
1. O
valor da unidade da Igreja com a unidade dos bispos
Na
Igreja antiga, o fortalecimento da Igreja dependia da unidade dos bispos que
era refletida junto ao povo de Deus. Tudo era expresso na consagração de um
bispo no qual participavam os bispos vizinhos. O Concílio de Nicéia, cânon 04,
realizado em 325 afirmava que em uma consagração episcopal fossem presentes
pelo menos três bispos, sendo um costume em vigor até hoje. O Concílio também
insistia para que todos os bispos da Província estivessem presentes na
consagração do eleito ou pelo menos tivesse um consenso escrito dos ausentes. O
livro: A Tradição Apostólica de Hipólito de Roma falava que os bispos presentes
imponham as mãos sobre o eleito, permanecendo imóvel o presbyterium, os
presbíteros, de modo que só os bispos punham as mãos sobre aquele que ficaria
bispo.
Desde
o fim do II século os bispos das províncias ou dioceses começaram a
encontrar-se em reuniões (synodoi, sínodos, concílios regionais) para questões
que diziam respeito a toda a Igreja. Cipriano afirmava que os escritos dos
mártires que circulavam entre as igrejas garantiam a paz geral na Igreja de
Cristo Jesus. Outros escritos falavam da unidade da Igreja na antiguidade
cristã, pois diziam respeito à disciplina e à própria vida eclesial. Dessa
forma aconteciam as Assembleias dos Bispos para debater questões das Igrejas e
dar encaminhamentos às mesmas. Alguns acontecimentos extraordinários como o
aparecimento dos montanistas, a controvérsia sobre a festa de Páscoa, o
tratamento dos lapsis, a controvérsia do batismo dos heréticos deram o inicio a
esta pratica que resultou em uma instituição significativa à unidade na
diversidade da Igreja sobre a base dos bispos.
Na
medida na qual cada bispo vinha considerado como sucessor dos apóstolos, os
bispos participantes eram equiparados nos direitos de governar e reger o povo
de Deus de modo que o serviço episcopal era único e cada um participava na sua
integridade.
2.
As famosas "Cartas de Comunhão"
Inácio
de Antioquia afirmava algo importante aos Esmirniotas, que onde estivesse um
bispo ali estaria uma Igreja local. As diferentes igrejas não existiam
justapostas entre elas, porque não havia uma organização como na atualidade,
com os seus regionais, nacional, mesmo porque o Império romano era dividido em
Províncias. Nós podemos dizer que havia unidade em certo sentido como hoje com
o sucessor do apóstolo Pedro, o bispo de Roma. A palavra Koinonia, aludia ao
conceito de unidade, manifestada essencialmente pela comunhão eucarística de
modo que além dos vínculos amigáveis entre os bispos, haviam também documentos
de caráter epistolar, as cartas de comunhão. para acreditar a comunhão entre as
igrejas como também para garantir a comunhão aos cristãos, leigas e leigos que
se transferiam de uma igreja para outra.
A
Igreja de Roma ganhava sempre mais considerações nas cartas de comunhão entre
as Igrejas. Tertuliano falava da plena comunhão existente entre a Igreja romana
e as igrejas africanas ao falar da pertença da pessoa na mesma fé à uma mesma
sociedade. Cipriano informou ao bispo de Roma, Cornélio, a respeito dos bispos
que viviam a doutrina da Igreja e do Senhor, para assim Roma enviar as cartas
de comunhão. O Concílio de Antioquia, realizado em 268 comunicou ao bispo de
Roma, Dionísio, e também ao bispo Máximo de Alexandria que o sucessor de
Paulo de Samosata era Domno de modo que só eles poderiam receber as cartas de
comunhão das grandes sedes. Esses testemunhos evidenciam como na comunhão as
igrejas apostólicas, e sobretudo aquela de Roma, fossem por muito tempo, uma clara
referência para outras igrejas porque a comunhão, a communio possuía duas
vertentes, a sacramental e a jurídica. Uma igreja que estava em comunhão com a
Igreja de Roma, o era também com toda a igreja católica, com todas as outras
igrejas.
3. A
prática eclesial em Ireneu de Lião e em Tertuliano
Ireneu
de Lião traz noticias a respeito da Igreja que a entendia em duas formas: a
Igreja em geral, constituída por cristãos, unidos pela comunhão de fé de
tradições e as Igrejas locais. Diante da corrente gnóstica que dissolvia a fé,
Ireneu fez apelo à tradição da Igreja, daquela dos apóstolos, transmitida aos
sucessores que esses estabeleceram como cabeças das Igrejas locais e
constituíam a corrente de transmissão da tradição autêntica. Esses se tornaram
os bispos de outrora.
Ireneu
também deu uma atenção à Igreja de Roma na transmissão da fé vinda dos
apóstolos. Diante dos gnósticos que se diziam a Igreja verdadeira, afirmou o
bispo de Lião que entre as Igrejas particulares, existe uma por excelência que
a torna porta voz de todas as outras, sendo a Igreja de Roma, fundada pelos
apóstolos Pedro e Paulo, de modo que o seu sucessor continua a obra apostólica
unindo as tradições de outras igrejas.
Tertuliano
deu notícias em relação às reuniões dos cristãos desenvolvidas em Cartago,
sendo essas de dois tipos: cultuais e caritativas. As cultuais compreendiam uma
oração comum dos fiéis, leituras da Sagrada Escritura, discursos de exortação e
de advertência sobre a ordem interna da comunidade e uma coleta para os necessitados.
As reuniões caritativas eram comidas de caridade, acompanhados por cantos
religiosos. Tanto as primeiras reuniões como as segundas eram presididas pelos
dirigentes da comunidade, sendo bispos e presbíteros.
Conclusão
As
assembleias dos bispos na antiguidade possibilitaram a unidade na Igreja diante
dos desafios que eram dados nas comunidades. Diversas questões surgiam na vida
cristã, católica, de modo que a Igreja dava respostas ao povo de Deus. As
assembleias dos bispos aludem à vida do povo de Deus e a nossa vida com Deus
Uno e Trino.
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Dom Vital Corbellini Bispo de Marabá (PA) |
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