Apresentação
dos temas ocorreu no sexto dia da 54ª Assembleia Geral da CNBB
A Comissão
Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) apresentou na manhã desta segunda-feira, 11, ao episcopado
brasileiro reunido em Assembleia, a relação entre a misericórdia e a justiça,
presente na Bula de Proclamação do Jubileu da Misericórdia, a Misericordiae
Vultus, e as perspectivas pastorais da exortação apostólica do papa
Francisco, Amoris Laetitia.
O bispo de
Bom Jesus da Lapa (BA), dom João Cardoso, e membro da Comissão, falou aos
bispos sobre a Justiça e a Misericórdia. “Entre justiça e misericórdia,
aparentemente, parece não haver possibilidade de relação. Cada um dos termos
pertence a campos semânticos diferentes. A misericórdia tem aspecto mais
subjetivo e aparece ligada ao sentimento de compaixão. A justiça apresenta-se
mais ligada à razão”, explicou.
“A
misericórdia tem conotação moral e religiosa. Situa-se no âmbito da vida
privada e diz respeito a atos de misericórdia e compaixão que somos
interpelados a praticar em determinados contextos. A justiça situa-se na esfera
pública da vida, da sociedade”, complementou.
Porém,
conforme lembra dom João, o papa Francisco afirma na Misericordiae
Vultus, que a misericórdia não é contrária à justiça. “Se Deus se detivesse
na justiça deixaria de ser Deus. Seria como todos os homens que clamam pelo
respeito da lei. A justiça por si só não é suficiente. Por isso, Deus com a
misericórdia e o perdão passa além da justiça. Deus não rejeita a justiça. Ele
engloba-a e supera-a no evento superior , no qual se experimenta o amor que
está na base de uma verdadeira justiça”, acrescenta.
Diz, ainda,
que o conceito de justiça baseado no “dar a cada um aquilo que lhe é devido”
tem a ver com reciprocidade. Porém, recorda que Jesus ensina que se deve fazer
o bem aos amigos e inimigos. “Em nenhum contexto seria justo o mal a alguém”,
afirma.
Falou,
ainda, do justo universal que corresponde à ordem jurídica e do justo
particular, que se divide em distributivo e corretivo. Segundo as explicações,
a justiça distributiva regula a relação entre o todo e as partes, isto é, entre
o Estado e os indivíduos. É caracterizada pela divisão de recompensas de acordo
com o mérito. Já a justiça corretiva regula as relações entre as
partes, entre os cidadãos do Estado. “Não importa quem cometeu o crime, se o
homem de bem ou um bandido, ele deve ser punido de acordo com o delito cometido.
Aqui, em princípio há uma reciprocidade na aplicação das penas; entretanto, a
compensação não poderia ser exatamente igual em todos os casos, visto que
dependeria de cada ocorrência particular”, complementou.
Dom João
disse que “o primado da misericórdia sobre a justiça se traduz, no plano
social, como o dever do Estado em garantir àqueles que não têm mérito algum o
acesso aos benefícios e ao bem-estar social, assegurando-lhes o direito de
serem amparados, assistidos e protegidos pelo fato de serem pessoas humanas”.
Para o bispo, “os pobres e os miseráveis não podem esperar eternamente pela boa
vontade de cristãos caridosos ou de pessoas de boa vontade”. Ele recorda que há
direitos fundamentais que devem ser efetivados “para que a justiça não
corra o risco de ser destruída, como ensina o papa Francisco”.
Perspectivas pastorais da Amoris
Laetiti
O bispo
coadjutor de Luziânia (GO), dom Waldemar Passini, apresentou aos bispos os nove
capítulos da exortação apostólica pós-sinodal do papa Francisco, Amoris
Laetiti que, segundo ele, proporciona ampla reflexão sobre o
amor.
Dom Waldemar
lembrou que a exortação é oferecida após a realização dos sínodos do papa sobre
a família, ocorridos em 2014 e 2015, à luz da Palavra, e destacou três aspectos
para estimular a leitura do texto: a sinodalidade como caráter exemplar, a
linguagem e a capacidade de interpelar, estimular e acompanhar.
O bispo de
Coari (AM), dom Marcos Piatek destacou as perspectivas pastorais do capítulo
sexto da exortação apostólica. Conforme o bispo, o papa deixa dois critérios
para elaborar novos caminhos pastorais. “O primeiro visa a fidelidade à
doutrina da Igreja. O segundo procura ver a necessidade e os desafios locais”,
diz. Para dom Piatek, o papa Francisco, com este documento, pretende apontar
apenas alguns princípios fundamentais que aparecem no cotidiano como: anunciar
o Evangelho da Família; guiar os noivos no caminho do matrimônio; acompanhar
nos primeiros anos da vida matrimonial; iluminar crises, angústias e
dificuldades; acompanhar as famílias que sofrem com a dor da morte.
O
bispo auxiliar de Porto Alegre (RS), dom Leomar Brustolin, fez uma exposição
sobre o oitavo capítulo da exortação apostólica. “Trata-se de um convite à
misericórdia e ao discernimento pastoral perante situação que não corresponde
plenamente ao que o Senhor nos propõe”, disse. Dom Leomar destacou quatro palavras-chave
para a leitura do capítulo: proximidade, discernimento, misericórdia e
integração à comunidade.
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